sexta-feira, 9 de novembro de 2007

DESENVOLVIMENTO E DIVERSIDADE ÉTNICA EM IJUÍ-RS: MOSAICO CULTURAL?

Sérgio Luís Allebrandt

Introdução

1. Diversidade cultural no nascimento de Ijuhy

2. O movimento Retomada pelo Desenvolvimento de Ijuí da década de 1980

3. O renascimento do discurso da diversidade cultural: a trajetória da FENADI

4. Diversidade cultural como política: o projeto Mosaico Cultural

Conclusão

Notas

Bibliografia

Introdução

O presente artigo objetiva tematizar alguns aspectos relacionados à diversidade cultural, abordando a experiência em curso no município de Ijuí há 20 anos – o movimento das etnias diversificadas – enquanto reconstrução imaginária das tradições que remontam à colonização daquele município.
No primeiro item, abordaremos a diversidade cultural no nascimento de Ijuhy, descrevendo como se deu o processo de colonização há mais de 100 anos, com ênfase especial à formação do povo de Ijuí, considerando as suas características da primeira experiência oficial de colonização mista em termos de origem étnica, já que na Colônia Ijuhy fixaram-se mais de 18 etnias.
No segundo item abordamos o Movimento pela Retomada do Desenvolvimento de Ijuí na década de 1980, movimento este que objetivava superar um período de crise econômico-social vivenciado em Ijuí e de cuja ação nasce a idéia de transformar Ijuí na terra das culturas diversificadas.
No terceiro item abordamos o renascimento do discurso da diversidade cultural, concretizado em Ijuí na Fenadi – a Festa Nacional das Culturas Diversificadas. Analisada a sua trajetória, passamos ao quarto e último ítem, abordando a consolidação da idéia da diversidade cultural, abordando-a como política de caráter local e de apoio e/ou reconhecimento por parte dos níveis governamentais estadual e federal.
1. Diversidade cultural no nascimento de Ijuhy
...era uma ilha de mato no meio do campo: do Alto da União até Catuípe, do Cadeado até Panambi... tudo era mato, mata virgem, mato cerrado. E tudo ao redor era campo. (...) O homem que já dominara o campo, recuara ante o mato. (...) Aos primeiros habitantes de Ijuí, diante do mato imenso, do mato impenetrável, do mato misterioso, só restava uma alternativa: bota-lo abaixo, fazer clareiras no mato, queimar as madeiras e depois plantar, plantar desesperadamente, plantar o mais possível, plantar um pouco de tudo. Cultivar o plantado, defende-lo contra a formiga. Numa palavra, trabalhar sempre, de sol a sol, sem descanso e sem trégua. Não lhe era permitido esperar que as coisas se fizessem: ele mesmo devia faze-las, se as quizesse (sic) ver feitas. (grifos nossos). (Frei Matias, 1962:97-8)
O município de Ijuí pertencia, no século XIX, ao quinto distrito do extenso município de Cruz Alta. Segundo Brum (1990), era uma área coberta de mata virgem de 20 a 30 quilômetros de largura, margeando o rio Ijuí e avançando ao longo de seus afluentes, como o Conceição e o Potiribu. Sendo a pecuária a atividade econômica predominante da época, a região de mato não era valorizada, era quase um estorvo, pois não tinha serventia. Mas razões estratégicas de ocupação e comunicação mobilizaram políticos na construção de uma política de colonização[1]. A efetiva ocupação deu-se a partir da abertura da Picada Conceição, provavelmente em 1848, cujo objetivo imediato era encurtar em cerca de 60 quilômetros, a distância entre a Vila de Cruz Alta e o distrito de Santo Ângelo, também pertencente à Cruz Alta[2].
Conforme Marques (1984), a Colônia de Ijuí, oficialmente fundada em 1890, marcou o início de uma nova política de colonização. Proclamada a República, o processo de colonização passou ao controle dos governos estaduais – as províncias. Na fase anterior, sob a tutela do governo central, prevalecia o modelo de centros homogêneos do ponto de vista étnico (cada colônia era povoada por integrantes de uma mesma etnia), fato que caracterizou a ocupação das colônias velhas, especialmente por imigrantes italianos (como no caso de Caxias, Bento Gonçalves, Encantado) e alemães (como em São Leopoldo, Lajeado e Estrela). Com a colonização de Ijuí, além de iniciar a ocupação das últimas áreas disponíveis no Rio Grande do Sul, o governo da província inaugurou um modelo de colônias mistas. Assim, foram enviados para cá imigrantes vindos da Europa, entre os quais alemães, teuto-russos, poloneses, italianos, letos, austríacos, húngaros, suecos, franceses, espanhóis. Logo depois da instalação oficial da colônia, juntaram-se integrantes de uma geração jovem de excedentes das colônias velhas, a partir de São Leopoldo e Caxias do Sul. Na história oficial a formação do povo do Ijuhy Grande deu-se dessa maneira. Como se antes de 1890 ninguém tivesse passado ou vivesse por aqui. Mas historiadores lembram que os imigrantes europeus e seus descendentes das colônias velhas não eram os únicos moradores da Colônia, nem foram os primeiros. De acordo com Acker (1990, p. 2), na necessidade de encurtar o caminho entre Cruz Alta e Santo Ângelo, por volta de 1856[3], começa a abertura da Picada da Conceição, que tem seu início onde hoje se encontra a Vila de Alto da União. Foi encarregado da abertura da picada o agrimensor José Gabriel da Silva Lima, recebendo em troca de seus serviços uma légua de terras entre Alto da União e rio Conceição. Para manter as condições de trânsito da picada, são colocados peões que se encarregariam da sua conservação e manutenção. Mas estes não são os únicos moradores da região, segundo os livros de registro da Comissão de terras, vários "nacionais" - termo da época - pediram legalização de posse, e receberam, por serem moradores antigos da região. Estes lotes localizavam-se em sua maioria na orla da mata em contato direto com o campo. Lazzarotto (2002) é outro historiador que dedica um significativo capítulo de seu livro sobre a História de Ijuí ao caboclo e sua importância para a construção e desenvolvimento da região. Com base em Gehlen (1985), este autor lembra que em diferentes épocas e lugares o caboclo é conhecido no Brasil com nomes diferentes como: nacional (na província gaúcha na época da colonização), caipira (Centro e Centro-Oeste), sertanejo (no sertão), posseiro (no Norte), e também como matuto, roceiro, mestiço e intruso. Caboclo é uma palavra de língua tupi, designando o mestiço de índio com branco, todos que tem origem indígena ou que seguem um sistema de vida à semelhança dos indígenas. Porque esta população luso-brasileira, que ocupou esta região de mata bem antes dos imigrantes europeus foi esquecida pela historiografia? Lazzarotto (2002) oferece uma boa pista ao referir-se ao livro Notícia descritiva da Região Missioneira, editado em 1887, cuja introdução foi feita pelo médico Francisco de Assis Pereira de Noronha[4], que seguramente, como veremos, era um médico racista com grande preconceito aos caboclos, que denominava de raça missioneira:
A raça missioneircom quanto(sic) fale o português, não é latina. Salvo algumas famílias de origem germânica, que não se misturando, conservam a pureza do sangue, o resto da população é o produto da mistura das raças branca, indígena e africana. Encontra-se, portanto, desde o mais fino espécime do tipo branco até ao negro azeviche, percorrendo de um a outro extremo a escala possível de todas as nuanças da coloração humana. Pelo seu vício de origem, pela grande disseminação e pela grande abundância de gado, caça, peixe e frutas, a população em geral é indolente e extraordinariamente preguiçosa. Pode-se calcular, sem o menor receio de exageração que entre 100 homens válidos, 80 são vadios, ao ponto que nem a fome e a nudez os obriga ao trabalho, e destes 80 vadios, 40 pelo menos, são ladrões. (grifos meus)
E mais adiante continua:
Percorrendo a região, ou seja nos campos, ou seja nas matas, o viajante vê, aqui e ali, uma pequena cabana as vezes mal coberta, toda esburacada. Encostado a cabana, um feixe com meia dúzia de varas, tanto quanto seja suficiente para recolher o cavalo; feixe a que dão o pomposo nome de mangueira. Se entra dentro da cabana vê-se por única mobília a chaleira para aquecer água para o mate, a respectiva cuia e os couros estendidos, onde a família dorme na mais hedionda promiscuidade.(...) Esta gente passa a maior parte do ano, comendo milho assado ou cozido que pede ou rouba dos 20 porcento que trabalham; da caça e do gado que roubam do estancieiro que os avizinha. Estes vadios, pode-se dizer, na sua totalidade, não tem o mais pequeno vislumbre de instrução elementar e por conseqüência nem umas noções de sentimento religioso e moral, e ainda menos estético, verdadeira origem de tudo o que o espírito humano pode apresentar de grande e sublime. (grifos meus) (NORONHA, apud LAZZAROTTO, 2002, p. 22).
Este preconceito da elite é posto por terra com um simples argumento: o volume de produção da erva-mate na região missioneira. Baseado em Evaristo Afonso de Castro (1887), Lazzarotto demonstra que os registros da época apontam para uma produção anual de mais de 500.000 arrobas de erva-mate na região missioneira, produção muito maior em volume a qualquer outro produto da região. Ora, a produção da erva-mate era fruto, essencialmente, do trabalho dos caboclos.
O ervateiro principia a sua safra de erva-mate no começo do inverno: dirige-se as matas nacionais, onde abunda essa árvore, competentemente munido, e se acampa no lugar onde deve estabelecer o carijo; em seguida dá princípio a poda das árvores; sapecam ao fogo os ramos desgalhados; enfeixam-nos e vão conduzindo do sapecar do carijo; cuja a construção é semelhante a uma latada de parreiras, o qual é sempre construído ao pé de uma vertente que forneça água para graduar o fogo, colocam os feixes da erva já sapecada e partida, ficando os cabos dos ramos para baixo, todos de uma altura de cerca de dez palmos do chão, os feixes postos bem apertados uns sobre os outros; em seguida fazem um grande brasido, de noite, por baixo do carijo, com madeiras apropriadas, para secar a erva, passados alguns dias, tornam a fazer o segundo fogo e ali descem para a canha onde é cancheada (picada) com grandes facões feitos de madeira muito dura; reduzida assim com pequenos fragmentos, guardando em jacás, que ali são conduzidos em cargueiros para monjolos de secar, onde ela é reduzida a pó e depois ensurroada em sacos de couro, preparados expressamente para este fim; depois de terem os surrões apanhado sol por alguns dias, ficam prontos para a exportação”. (CASTRO, 1887 pp. 276-277).
A preparação da erva se fazia com esmero, de tal modo que toda a que procedia das Missões tinha como preferência os mercados de Buenos Aires. Houve época em que a exportação atingiu a quarenta mil arrobas. Enfim, como afirma Lazzarotto (2002), considerando que o ervateiro repetia sem cessar este processo nos longos quatro meses da safra, no meio do mato e em pleno inverno, e alcançando o total da produção já vista, vemos que não era tão preguiçoso assim. Como afirma Gehlen (1985), o caboclo estabelece outra relação com o trabalho. Para ele, o trabalho se coloca como uma condição necessária à sobrevivência e de acesso aos bens de utilidade familiar. Ele não elabora produtos visando estabelecer “um ciclo contínuo entre ele mesmo e o mercado”, mas de satisfazer as necessidades. O critério de necessidade não é estabelecido pela produção mas por ele mesmo
"o produtor, portanto a lógica não é a da acumulação de riquezas. Esta noção de trabalho faz parte de uma noção de mundo radicalmente diferente daquela própria dos camponeses de origem européia. O trabalho não estabelece uma mediação entre ele e a sociedade, mas entre ele e a natureza e não tem, portanto valor comercial. (...) Esta filosofia vai colocar o caboclo em confrontação direta com o modelo dominante de ocupação e colonização do espaço brasileiro" (GEHLEN, 1985, pág.107-108).
Portanto, a ocupação da região da mata não inicia com a presença do imigrante europeu. O caboclo estava presente bem antes, ainda que vivesse em condições de nomadismo e da exploração da erva-mate em terras devolutas. Tanto é que em 1856 Custódio Antunes Cardias requereu e recebeu a posse de dez milhões de metros quadrados de terras na região (onde hoje se localiza o Rincão dos Gói – Ijuí), sob a alegação de que a ocupava desde 1835. (LAZZAROTTO, 2002). Em 1859 existiam quatro engenhos no Herval de Ijuhy Grande:
O Herval do Ijuhy Grande começa na margem direita deste rio pouco acima de Santo Ângelo no lugar denominado Santa Teresa, rodeia o pontão de serra pelo meio do qual corre o rio e vem terminar à foz e margem direita do Conceição. Seu comprimento compreendendo toda a volta pode elevar-se a 26 léguas e a espessura da mata de cada lado do rio, a 3 (léguas). Este herval tem a sua margem direita os nomes de Santa Teresa, Fonseca, ou Galpão, do Faxinal ou guarda-mor e Ramada. Na margem esquerda, descendo os de Porongos, Rincão de Nossa Senhora e Conceição[5], possui este herval 4 engenhos, o de Raymundo Nonto da Silva perto de Santo Ângelo, o de Francisco da Fonseca, nas Fonsecas, o de Carlos Riel. no Faxinal e o de Francisco Antonio Carpes, no Rincão de Nossa Senhora. A produção regula 15.000 arrobas. (ZARTH, apud LAZZAROTTO, 2002, p. 30,31).
Como vimos, a Colônia de Ijuhy foi um empreendimento oficial e planejado. O Governo da Província manda medir 1000 colônias em seus próprios domínios. A data oficial de instalação da colônia, como também já vimos, foi 19 de outubro de 1890. Entretanto, há controvérsias sobre a chegada efetiva dos primeiros imigrantes. A maioria dos historiadores aponta para o mês de janeiro de 1891, quando teriam chegado os primeiros poloneses e teuto-russos. Porém, como já evidenciamos, não podemos esquecer os nacionais que em princípio já ocupavam estas terras e, por isso mesmo, ocuparam muitos dos lotes destinados à colonização. Dos 604 lotes da Linha 1 à Linha 13 Leste, situados ao sul do Rio Ijuí, 107 lotes (18%) foram requisitados e legitimados por nacionais, muitos dos quais requeridos em janeiro de 1891. Da mesma forma, dos 267 lotes da Secção de Jesus (atual Rincão de Jesus, Santa Lúcia e Salto, hoje pertencentes ao município de Bozano) 144 (54%) foram ocupados por famílias de nacionais. No Rincão Nossa Senhora (atuais Rincão dos Tigre e Rincão dos Gói) 74 dos 121 (61%) lotes foram ocupados por nacionais. (RIEGER, 1992). Aliás, como lembra Muniz da Silva (1992) a proposta do governo provincial em criar colônias mistas tinha por objetivo a promoção da união dos imigrantes com os nacionais, tentando evitar quistos sociais. No que se refere aos imigrantes europeus e aos descendentes de imigrantes provenientes das colônias velhas (São Leopoldo, Caxias, Lajeado, Estrela e Santa Cruz do Sul), ainda que haja divergências sobre as datas exatas de sua chegada a Ijuí, o certo é que Ijuí foi a primeira experiência de colonização mista. O padre Cuber, já em 1897 denominava a Colônia de Ijuhy de Babel do Novo Mundo, ao mencionar a diversidade étnica presente na colonização local:
Nossa comunidade recebeu prazerosamente representantes de pelo menos dezenove nacionalidades, pois é esse o número de idiomas que se ouvem por aqui. Até parece a babel do novo mundo. Segundo as estatísticas oficiais, aqui se econtraram as seguintes nacionalidades: 500 polonesas, 30 lituanas, 20 rutenas, 10 tchecas, 200 alemãs, 100 austríacas, 100 italianas, 50 suecas e várias finlandesas. Além dessas, aqui moram portugueses, brasileiros e seus descendentes, espanhóis, franceses, árabes, gregos, mulatos e bugres. (CUBER, 2002, p. 27-28)
Durante a década de 1890 aqui aportaram imigrantes de diversas nacionalidades:
Poloneses: o território da Polônia, até 1918, estava dividido entre a Áustria, a Rússia e a Prússia. A maioria dos poloneses que chegaram a Ijuí veio do território dominado pela Rússia. As primeiras 100 famílias chegaram, segundo os registros, em janeiro de 1891 e, em 1894, já eram mais de 500 famílias, localizadas principalmente nas Linhas 3, 4, 5, e 6 oeste e 1 leste, formando núcleos etnicamente fechados, sendo que muitos, por motivos de desentendimento religioso e político com os alemães, migraram para a colônia de Guarani das Missões, onde ainda hoje predominam. Os que resistiram pela persistência, vencendo as dificuldades, muito contribuíram para a formação de Ijuí, ocupando seus descendentes, ainda hoje, posições sociais destacadas.
Alemães: por muitas décadas do século passado Ijuí é conhecida como um município de colonização alemã. Mesmo hoje, com a marca de culturas diversificadas, é comum afirmar-se a supremacia da origem alemã. Na verdade, a etnia alemã (ou comunidade lingüística) nunca deve ter passado dos 30% da população de Ijuí. O caráter germânico dado a Ijuí deveu-se, muito mais, pela língua falada (a cultura) tanto por alemães natos, quanto por teuto-russos, austríacos, teuto-húngaros, teuto-poloneses, teuto-romenos e teuto-brasileiros (migrantes provenientes das colônias velhas). Mas o caráter germânico foi também resultante do fato dos descendentes destas etnias ocuparem quase todos os postos em evidência na administração pública, no comércio, na indústria e nas profissões liberais. (MARQUES, 2002; FISCHER, 2002; LAZZAROTTO, 2002; RIEGER, 1992). Entre os primeiros alemães que se estabeleceram em Ijuí, estava um imigrante que era da Alsácia, que com a anexação à Prússia em 1871 fugiu para a Suíça e depois para o Brasil, chegando a Alto da União - Ijuí no final de 1890. Outro imigrante teuto-russo vinha da Lituânia e se estabeleceu na Linha 1 oeste, no lote 35. Ainda entre os primeiros imigrantes que aqui chegaram, havia muitos teuto-russos provenientes da Volínia - Rússia, que re-emigraram para o Brasil (fugiam especialmente pelo medo do serviço militar czarista, que podia durar até 25 anos). Ainda que tenham vindo famílias diretamente da Alemanha, a maioria dos imigrantes da década de 1890 é de contingentes de jovens que saíram das Colônias Velhas (São Leopoldo, Lajeado, Estrela, Teutônia e Santa Cruz do Sul) pela dificuldade de obter terras baratas naquelas colônias. É preciso ter presente, como lembra Fischer (1987), que o grande fluxo migratório alemão para o Brasil se deu de 1824 até o final da década de 1850. Em 1859 a lei de Von der Heydt proíbe a propaganda da imigração para o Brasil. Esta lei só foi revogada em 1896. Após 1914 muitos alemães que fugiam da 1ª guerra vieram a Ijuí. Da mesma forma, grupos de teuto-russos que fugiam do regime comunista (LAZZAROTTO, 2002) ou, como afirmam outros, que fugiram quando a Alemanha invadiu a Rússia na última guerra (FISCHER, 2002; MARQUES, 2002), aportaram em Ijuí nos anos 40 do século passado.
Italianos: com o declínio da imigração alemã devido à lei já mencionada e a necessidade de braços para substituir a mão-de-obra escrava, aliado à grande miséria dos 8,5 milhões de camponeses italianos, o desemprego e a falta de mercado para o artesanato provocado pela industrialização iniciou forte afluxo de imigrantes italianos para o Brasil a partir de 1875. Em Ijuí, os primeiros italianos chegaram ao final de 1890 ou início de 1891. Alguns adquiriram terras de caboclos na linha 9 leste, mas a grande maioria estabeleceu-se no atual distrito de Barreiro. Como no caso dos alemães, além das famílias que vieram diretamente da Itália para Ijuí, um grande contingente dos imigrantes que aqui chegaram foram ítalo-brasileiros, descendentes dos imigrantes italianos das Colônias Velhas (Caxias do Sul e Silveira Martins). Além do Barreiro, os italianos estabeleceram-se em Salto, Santa Lúcia, Santo Antônio, Floresta e Rincão dos Gói.
Suecos: os primeiros 160 suecos chegaram a Ijuí em setembro de 1891. Localizaram-se principalmente na linha 8 leste.
Austríacos: alguns poucos austríacos chegaram a Ijuí em 1891 e 1892. Mas em 1893 chegavam 176 pessoas, integrantes de um grupo de 400 austríacos que vieram para o sul do Brasil e que saíram da Áustria devido ao fechamento de uma fábrica de armas que desempregou 7000 operários em 1892. Em Ijuí situaram-se entre as linhas 5 e 8 leste. O jornal Die Serra-Post, depois Correio Serrano, que foi editado de 1912 a 1988 era de propriedade de imigrante austríaco de origem hebraica.
Letos: a Letônia estava dominada pela Rússia czarista. O superpovoamento e o odiado serviço militar russo obrigatório que durava até 25 anos, além da persistência do sistema de exploração feudal, fez com muitos letos procurassem a liberdade em países como os Estados Unidos, o Canadá e o Brasil. O primeiro imigrante leto em Ijuí estabeleceu-se no lote 118 na linha 11 leste, em janeiro de 1891. Outros se radicaram nas linhas 4, 5 e 6 oeste e entre as linhas 7 e 8 leste. Mas é nas linhas 10, 11 e 12 leste que logo se transformaram numa pequena Letônia. Entre as características deste grupo está a preocupação com a educação, já que todos os imigrantes eram alfabetizados. Espanhóis: a partir de outubro de 1892 chegaram muitas famílias de espanhóis, que se estabeleceram linha 8 oeste e posteriormente no atual distrito de Itaí. Libaneses e árabes: instalaram-se em Ijuí a partir de 1895, dedicando-se especialmente ao comércio ou atuando como mascates pelo interior e municípios vizinhos.
Holandeses: os primeiros holandeses chegam aqui em abril de 1892, em sua maioria, operários e artistas.
Portugueses e luso-brasileiros: em geral é posta em segundo plano a contribuição luso-brasileira na formação das etnias ijuienses. Mas muitos luso-brasileiros estão presentes antes da colonização, seja na preparação da colônia para a recepção dos imigrantes, seja na abertura da Picada da Conceição. Muitos luso-brasileiros foram de importância decisiva para a evolução de Ijuí, normalmente ligados à administração pública.
Negros afro-brasileiros: muito antes da medição das terras em Ijuí, negros e mulatos já habitavam a região. Moravam, via de regra, como posseiros e vieram para Ijuí no período pré e pós-abolição da escravatura, provindos das regiões missioneira e serrana. Após 1930, com a instalação do Frigorífico Serrano, outros negros vieram para Ijuí em busca de emprego na indústria. Infelizmente continua presente o preconceito racial[6] que condena os negros a uma vida isolada, que buscam superar pelo recurso ao ensino médio e superior.
Outras etnias: Ijuí compõe-se ainda de outras etnias, embora de menor importância numérica. Entre eles podemos mencionar russos, lituanos, húngaros, franceses, romenos, rutenos, tchecos, finlandeses, gregos e japoneses.
De acordo com Lazzarotto (2002) o primeiro recenseamento, concluído em 1897, já apontou uma população de 6.068 habitantes para a Colônia de Ijuhy. Em 1912, ano da emancipação política do Município, estimava-se que a população ijuiense era de 25 a 28 mil habitantes. Seguindo os princípios liberais da Constituição Federal de 1891, a responsabilidade e obrigação pelos serviços públicos foram transferidas no Rio Grandes do Sul, para a esfera municipal no início de 1893. A Colônia de Ijuhy, criada dois anos antes, enfrentava diversos problemas, sendo o principal o desentendimento ainda reinante entre chimangos e maragatos, resultante da revolução de 1893-95 e o fato de ser uma colônia heterogênea, com a convivência de pelo menos 19 diferentes etnias. Segundo Acker (1990), quando Borges de Medeiros assumiu o governo do Estado, em 1898, agilizou imediatamente uma forma de conter a ameaça de fracasso ao primeiro projeto oficial de colonização do governo. Para tanto, nomeou imediatamente um funcionário público com boa formação intelectual, política e sociológica, o engenheiro Augusto Pestana, para a tarefa de reorganizar a Colônia de Ijuí. De acordo com Acker (1990, p.3), o Diretor da Colônia, que atuou em Ijuí por 11 anos, organizou “uma infra-estrutura dentro dos moldes positivistas de governo, ou seja, atuou diretamente na construção de estradas, escolas, pontes, melhoria das técnicas agrícolas e pecuárias, assim como estimulou o congraçamento nos diversos núcleos coloniais, com festividades coletivas”. Em 1912 Ijuí obteve autonomia política, transformando-se em município, sendo sua área territorial desmembrada dos municípios de Cruz Alta, Santo Ângelo e Palmeira das Missões, com área de 2.136 km². Em 1961, Ijuí perdeu parte da área, que foi cedida para o novo Município de Catuípe e, em 1965, desmembraram-se também os atuais municípios de Augusto Pestana e de Ajuricaba, ficando Ijuí com uma área de 1.003 km². Mais recentemente, com a criação de dois novos municípios - Coronel Barros em 1992 e Bozano em 1999 (instalado em 2001) - Ijuí ficou com uma área de 669 km². Atualmente o Município está organizado em 9 distritos: 1º - o Distrito Sede, 2º - Distrito de Mauá, 3º - Distrito de Chorão, 4º - Distrito de Floresta, 5º - Distrito de Santo Antônio, 6º - Distrito de Alto da União, 7º - Distrito de Santana, 8º - Distrito de Itaí e 9º - Distrito de Barreiro.
2. O movimento Retomada pelo Desenvolvimento de Ijuí da década de 1980
Segundo Baggio (2002), a revolução de 64, dentre outras conseqüências, provocou a fragmentação da sociedade e das comunidades locais. Na ótica deste autor, durante as décadas de 60 e 70, Ijuí vivenciou conflitos que provocaram enormes rachaduras internas, resultando em desvantagens e perdas para todos. Em sua análise, incorpora o conceito de instituições e/ou organizações estratégicas como motores do movimento das comunidades. Quando estas instituições convergem em objetivos, criam-se condições para o desenvolvimento, mas quando divergem, quando se contrapõem, ainda que busquem competência em suas áreas, o resultado significa um retrocesso do ponto de vista do desenvolvimento integrado das comunidades, dos municípios ou regiões. Em Ijuí, Baggio (2002) considera como as instituições estratégicas: a Prefeitura Municipal (entenda-se o Governo Municipal), a Câmara de Vereadores, a Associação Comercial e Industrial de Ijuí – ACI, a Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Noroeste do Estado – FIDENE (mantenedora da UNIJUÍ), a Cooperativa Regional Tritícola Serrana Ltda. – COTRIJUÍ e o Hospital de Caridade de Ijuí – HCI (hospital de referência macrorregional). As instituições estratégicas assumiram caminhos diferentes e até contraditórios durante as referidas décadas. Enquanto a FAFI/FIDENE se afirmava como referência de resistência à ditadura, espaço institucional de vivência democrática e fator de promoção da organização de base na área rural e urbana, a COTRIJUI se afirmava como experiência organizacional bem sucedida de cooperação e gestão participativa, a ACI estimulava os empresários a se alinharem ao poder dominante e a Prefeitura Municipal posicionava-se ciclicamente em função da rotatividade dos diferentes estilos ideológicos dos partidos que se sucediam no poder, assumindo posições de certos engessamentos institucionais. (BAGGIO, 2002, p. 27) FIDENE e COTRIJUÍ atuavam em parceria, enquanto ACI e Prefeitura atuavam paralelamente e, às vezes, de forma articulada. As propostas de caráter estratégico para toda a comunidade, nascidas neste período, normalmente não obtinham a aprovação de todas estas instituições estratégicas e, por isso, não se concretizavam. Entretanto, na segunda metade dos anos 70 ocorreram mudanças: Os ares da redemocratização do país fizeram-se sentir no município provocando mudanças substanciais nas organizações estratégicas. Várias iniciativas foram desenvolvidas na segunda metade da década de setenta visando criar as condições concretas para a aproximação e intensificação do diálogo interinstitucional, objetivando promover um clima favorável para o desenvolvimento comunitário. (...) O espírito comunitário herdado dos imigrantes europeus e as experiências concretas de atuação grupal vivenciadas na comunidade nos anos anteriores falaram mais alto e paulatinamente foram criadas condições para a etapa da construção de convergências estratégicas. (grifos meus) (BAGGIO, 2002, p. 29-30) A Retomada para o Desenvolvimento de Ijuí[7], movimento nascido da decisão conjunta dos titulares das instituições estratégicas de Ijuí, tinha por objetivo iniciar uma nova etapa de desenvolvimento comunitário no município. A partir de julho de 1984 realizam-se reuniões nas quatro principais organizações estratégicas: Prefeitura Municipal, ACI, FIDENE e COTRIJUÍ, propiciando intenso debate na comunidade e a criação de 10 Comissões Interinstitucionais de Trabalho para estudo de prioridades municipais: solo, diversificação, comércio, saúde, indústria, desenvolvimento urbano, segurança, etc... Baggio (2002, p. 36-38) assim caracteriza a Retomada:
A Retomada se transformou imediatamente em movimento, cuja coordenação geral era de responsabilidade dos titulares das instituições estratégicas de Ijuí (Prefeitura Municipal, COTRIJUI, FIDENE e ACI, num primeiro momento, e inclusão posterior da Câmara de Vereadores e do HCI) e a participação das demais entidades e lideranças através de “Comissões Interinstitucionais” e da “Plenária da Retomada”.
É possível caracterizar quatro etapas distintas de funcionamento da “Retomada”. A primeira é a fase inicial quando se deu a aproximação, diálogo e conhecimento mútuo entre as instituições estratégicas. A operacionalização desta etapa foi através da realização de reuniões em cada instituição para apresentação de informações sobre a instituição, visitação interna, questionamentos e confraternização. Dessa fase resultou conhecimento e respeito mútuos, confiança e certeza de que seria possível trabalhar em conjunto. Na segunda etapa ocorreram estudos, debates e outros eventos conjuntos em torno da situação, tendências e planos do município. O funcionamento correu através da rotatividade da coordenação entre os titulares das instituições estratégicas, estudos técnicos de Comissões Interinstitucionais e reuniões da Plenária, com possibilidade de participação de todas as entidades e pessoas de Ijuí. O papel das Comissões Interinstitucionais foi muito importante não apenas para realizar estudos específicos, mas principalmente para oportunizar aproximação, diálogo e construção de convergências entre os segundo e terceiros níveis hierárquicos das instituições estratégicas com as demais instituições do município. Esses trabalhos construíram um novo clima na comunidade que resultou na emergência de inúmeras iniciativas nos vários setores da sociedade, bem como na articulação geral da população em torno de prioridades estratégicas de desenvolvimento futuro de Ijuí, com repercussões favoráveis para a região. Na terceira etapa, a “Retomada” perdeu forças já que as instituições estratégicas, à semelhança da maior parte das instituições brasileiras, buscaram adotar mudanças profundas internas, em função dos efeitos da maior abertura internacional do país. A última etapa caracterizou-se pelas tentativas frustrantes de revitalização do movimento da Retomada. Uma através da institucionalização do Conselho Municipal de Desenvolvimento, em meados da década de 90, e outra através da tentativa de “Retomar a Retomada”, ocorrida em 1998. A primeira não teve sucesso em função, basicamente, do tipo de composição do Conselho e da tentativa de transformá-lo em órgão de suporte tático-operacional do Poder Executivo. A segunda, após alguns avanços iniciais, foi interrompida em função do rompimento da confiança entre as pessoas que ocupavam os principais cargos administrativos nas instituições estratégicas. A Retomada foi um espaço de participação e de relacionamento interinstitucional, que tinha como objetivo um desenvolvimento mais harmônico e integral para o município. Entretanto, por mais que em alguns momentos houvesse uma maior participação de organizações da sociedade civil, o movimento tem sido criticado por ser comandado pela elite econômico/político/cultural do município, reconhecendo, nos demais órgãos/entidades, parceiros de segundo nível, ou parceiros para concretizar ações e projetos específicos. Por esse motivo, o envolvimento de sindicatos e associações de bairros não tem sido significativo. Na década de 90, estas entidades buscaram seus espaços junto aos Conselhos Municipais. A criação do Conselho Municipal de Desenvolvimento foi uma tentativa de incorporar num mesmo fórum representações das empresas, dos sindicatos, das organizações comunitárias e não governamentais, instituições de educação e pesquisa, que teriam o papel de articular a discussão sobre o rumo estratégico do município. (ALLEBRANDT, 2002). Apesar disso, a Retomada foi um movimento importante naquele momento histórico. Uma das decisões decorrentes das discussões e do processo inicial de debate, com envolvimento de número maior de entidades, que foi tomada em reunião, ainda em 1985, com 66 entidades representativas presentes, de implementar a idéia de culturas diversificadas como marca de Ijuí. Daí nasceu a FENADI – Festa Nacional de Culturas Diversificadas (que em 2006 realiza sua 20ª edição), cuja trajetória vamos analisar no item seguinte.
3. O renascimento do discurso da diversidade cultural: a trajetória da FENADI
Como lembra Weber (2002), a imagem da Babel do novo mundo já utilizada pelo padre Cuber em 1897, reaparece nos anos 30 do século passado, representando Ijuí como um resumo do mundo étnico ou como um melting-pot[8] que daria origem à verdadeira raça brasileira:
Ijuí tem uma característica toda especial dentro do R. Grande do Sul (...) [a] variedade de raças, nacionalidades e religiões a que pertence a população (...) onde se plasma a verdadeira raça brasileira do porvir, à custa de uma amálgama variadíssima em que percentagem vultuosa de germanos, nórdicos, eslavos, itálicos, semitas, sírios, indo-brasileiros e luso-brasileiros contribuem para a formação de um novo tipo humano. (SAROBI, 1934, s.p.).
Entretanto, é preciso ter presente que a partir de 1937, com a Campanha de nacionalização do governo de Vargas, muitos elementos culturais étnicos e de relações interétnicas foram fortemente atingidas. Como lembra Seyferth (1981) a campanha tinha como premissa erradicar as influências estrangeiras para incutir o sentimento de brasilidade nas populações de origem européia. Pretendia a assimilação compulsória ou forçada das minorias (especialmente alemães, italianos e poloneses), colocando à margem da lei grande parte de instituições (sociedades assistenciais, imprensa, escola) consideradas estrangeiras. Em Ijuí, principalmente a partir de 1937, diversos professores deixaram de lecionar nas escolas devido sua origem e pelo fato de que era comum até então o ensino bilíngüe, especialmente o alemão. A partir de 1942, quando o Brasil toma posição na Segunda Guerra, os ânimos acirram-se, com a proibição do uso público de línguas, a posse de livros e a sintonização de emissoras dos países do Eixo. Deste período, em Ijuí, ficou a memória da denúncia e da perseguição, com prisões pelo simples fato de alguém falar alemão e destruição, pelos representantes do Departamento de Imprensa e Propaganda (diversas pessoas foram credenciadas em Ijuí pelo prefeito nomeado, com direito até a carteira de integrante do DIP), de livros, inclusive bíblias, escritos em alemão. (WEBER, 2002). Depois da década de 50, em diferentes momentos festivos e comemorativos, como o cinqüentenário de emancipação política do município, a diversidade étnica volta à tona. De 1961 a 1963 um programa radiofônico semanal, denominado Nossas coisas e nossa gente, buscava resgatar a trajetória da formação de Ijuí, sendo que a diversidade da origem étnica estava bastante presente. Por ocasião do cinqüentenário do Correio Serrano, na edição de 05 de novembro de 1967 era publicado um artigo de Martin Fischer, cujo título era A colonização de Ijuí: uma retrospectiva histórica sociológica e étnica. Na última parte deste artigo, com o título centro cosmopolita, o autor escrevia:
O retrospecto histórico, sociológico e étnico sobre a colonização de Ijuí revela um fenômeno extraordinário. No pequeno território do município encontramos uma população composta das mais variadas raças e nacionalidades, que só se encontra nos grandes centros cosmopolitas. O município de Ijuí se apresenta por essa característica toda especial como um reflexo da política migratória do Brasil, em tamanho pequeníssimo. Aqui em Ijuí, nesta pequena nesga da terra gaúcha, efetua-se o que é o sonho da política imigratória brasileira: o amálgama da variedade de raças e nacionalidades para plasmar a nova e verdadeira raça brasileira do futuro. (FISCHER, 2002, p. 64)
Entretanto, como já apontamos anteriormente, cotidianamente a imagem de Ijuí era a de uma cidade de colonização alemã. Como aponta Weber (2002), citando Seyferth, o principal elemento definidor da etnicidade para muitos grupos é a língua materna. Assim, mesmo que os grupos germânicos tivessem costumes diferentes, a língua os unificava e esta unificação garantia-lhes certa hegemonia cultural. Mas Weber (2002) em sua análise aponta que nas décadas de 30 e 40 do século passado se visualizava Ijuí como uma configuração tripartite de imigrantes alemães, italianos e poloneses. É na década de 80 que o discurso da diversidade cultural é retomado com força e é na década de 90 que este discurso se consolida. Como já vimos no item anterior, em 1985 é lançada a idéia de culturas diversificadas como marca de Ijuí. Um dos idealizadores da proposta, o professor Mário Osório Marques, escrevia:
O significado do pluralismo étnico, que caracteriza a formação colonial de Ijuí, não está nos aspectos específicos de cada etnia considerada em si mesma, como fator de unidade e identidade grupal à base de procedência geográfica ancestral determinada, fato sócio-cultural de especificidade própria, não porém de alcance maior quando tomado em si mesmo, isoladamente. É o caráter relacional da etnia que a torna significativa a partir do momento em que surgem as diferenças e, por aí, o dinamismo dos contrários em luta por superarem-se no processo pelo qual o convívio em espaço e tempo social comum termina por configurar uma unidade original de culturas diferenciadas, diversificadas, ricas pelo seu poder de relativizar todo o seu mundo, de se contrapor aos mecanismos de mando e controle unitários, despóticos. (FISCHER, 2002, p. 11)
Ijuí, que já assumira o slogan Colméia do Trabalho[9], assumia agora mais dois slogans: Ijuí – cidade universitária[10] e Ijuí – terra das culturas diversificadas. Os objetivos da FENADI foram assim definidos:
- Estimular todos as etnias de Ijuí para que se estruturem como grupos e incentivá-las para que cultivem as suas tradições e valores através das mais diversas manifestações, quais sejam: alimentação, vestuário, arquitetura, dança, música, teatro, pintura, escultura, “memória histórica”, entre outras;
- Estimular a comunicação entre as pessoas e grupos étnicos de Ijuí com outros grupos e movimentos das mesmas etnias em funcionamento no Rio Grande do Sul, no Brasil e no País de origem;
- Estimular estudos, debates, encontros e outras formas de entendimento e cultivo das mais diversas manifestações e expressões étnicas, culturais e artísticas, fruto da rica miscigenação ou da “mistura” dos seguintes grupos étnicos que integraram o processo de colonização de Ijuí e da Microrregião: alemães, espanhóis, italianos, letos, poloneses, luso-brasileiros, suecos, húngaros, sírio-libaneses, teuto-russos, holandeses, austríacos, afro-brasileiros, japoneses, franceses, ameríndios, suíços, entre outros;
- Cultivar alegria, relacionamentos, fraternidade e parcerias entre pessoas e famílias de diferentes origens étnicas buscando fortificar o entendimento entre os povos e as nações;
- Criar as bases necessárias para inserir o município em programas turísticos nacionais e internacionais, bem como na ampliação do comércio internacional de bens e serviços;
- Criar consciência histórica e materializar a idéia da universalidade e da mundialização na população de Ijuí em forma de iniciativas, vivências, cultura, relacionamentos e avanços econômicos.
A primeira edição da FENADI – Feira Nacional das Culturas Diversificadas acontece em outubro de 1987. Ao longo do ano, foram realizados diversos jantares de confraternização das etnias, torneios de integração das etnias, criação dos centros étnicos culturais. As três etnias da configuração tripartite já mencionada (alemães, italianos e poloneses) iniciaram a construção de suas casas típicas no Parque de Exposições. Além disso, vários eventos em torno da memória cultural e encontros de famílias foram realizados. Durante a Feira, os grupos participaram com três grupos de dança, vários corais e alguns conjuntos musicais. A I FENADI registrou a presença de 201.000 pessoas. Ainda durante a FENADI de 1987 o Poder Executivo Municipal criou a Fundação Cultural de Ijuí, uma fundação pública municipal. No ano seguinte, vários grupos étnicos se consolidaram. Iniciaram a construção de suas casas típicas os holandeses, os portugueses, os letos, os austríacos e os afro-brasileiros. Neste ano os centros culturais já possuíam 12 grupos de dança, 7 corais e 4 conjuntos musicais. Em 2002 acontece a 16ª FENADI, com o slogan diversas vertentes fazem o rio das grandes águas[11], com a participação de 11 centros culturais étnicos, todos com estrutura organizada no Parque de Exposições e com pelo menos um grupo de danças ativo. Além disso, integra-se ainda o CTG Querência Gaúcha do Parque, construído com a finalidade de representar e integrar os CTGs de Ijuí[12] e do Estado do Rio Grande do Sul nos eventos que se realizam no Parque e no movimento artístico-cultural.
Os Centros Culturais existentes e seus respectivos anos de Fundação são:
Centro Cultural Étnico Fundação* Etnia Centro Cultural 25 de Julho de Ijuí..................1987...Alemã Sociedade Cultural Polonesa Karol Woytila........1987...Polonesa Centro Cultural Regional Italiano ....................1987...Italiana Grupo Cultural Herdeiros de Zumbi...................1987...Afro-brasileira Sociedade Cultural Holandesa de Ijuí................1987...Holandesa Centro Cultural Leto......................................1987...Leta Centro Cultural Austríaco de Ijuí......................1988...Austríaca Centro Cultural Português..............................1988...Portuguesa Casa Cultural Árabe......................................1990...Árabe Centro Cultural Sueco...................................1991...Sueca Centro de Cultura Espanhola...........................1992...Espanhola Entidade Tradicionalista Querência Gaúcha**.....1990...Gaúcha
*A data de fundação de cada centro tem um significado especial e histórico para a respectiva etnia. ** A Querência gaúcha não representa uma etnia, mas sim a integração dos CTGs de Ijuí e o movimento tradicionalista gaúcho como manifestação cultural regional
Em 2005 envolviam-se no movimento das etnias cerca de 4000 pessoas, que trabalhavam voluntariamente. Participavam 20 grupos folclóricos de danças, envolvendo cerca de 600 jovens, 6 corais e 2 conjuntos musicais. Os Centros Culturais ofereciam cursos de línguas em 9 idiomas diferentes. Passaram a ser realizados diversos encontros de famílias, fortaleceu-se o cultivo da memória histórica, a elaboração de árvores genealógicas e a publicação de artigos e livros sobre história, costumes, vestimentas e receitas de pratos típicos. Durante o ano são realizados jantares, viagens, atividades artístico-culturais e outros eventos pelas etnias.
4. Diversidade cultural como política: o projeto Mosaico Cultural
A trajetória da FENADI aponta para a existência de uma política efetiva na construção de uma dinâmica cultural específica. É claro que a FENADI nasceu da constatação de que a miscigenação étnica de Ijuí constituía-se em invejável potencial cultural e, portanto, em potencial produto turístico e estratégia de desenvolvimento econômico. Tanto é, como observa Baggio (2002, p. 63), que “já foram feitas várias tentativas para consolidar o movimento étnico e dar-lhe um caráter mais profissional e empresarial, oportunizando interagir em contextos mais amplos”. O presidente da EMBRATUR e a Diretora do Departamento de Municipalização do Turismo da EMBRATUR, quando estiveram em Ijuí, em 1999 caracterizaram o movimento étnico de Ijuí como sendo o maior potencial turístico da macroregião, pois é algo vivo, diversificado, com grande potencial de comércio, de lazer, de cultura e de interação internacional. Mas também estava presente a idéia, como alerta Marques (2002, p. 55) de que a cultura não mais pode ser definida como “conjunto unitário e homogêneo de crenças e visões de mundo, mas como culturas plurais, distintas e conflitantes, locais e globais ao mesmo tempo: glocais”. A partir de 2002 a UNIJUÍ assume a Coordenação da Comissão de Cultura da Expo-Ijuí/Fenadi[13], tendo como um dos objetivos principais maior efetividade para abrir espaços públicos para a cultura em eventos que são essencialmente de negócios. No momento em que os Centros Culturais fazem o resgate de tradições culturais eles ressignificam essas manifestaçoes, compondo um mosaico evidenciando que a cultura é movimento. Esse evento também possibilita criar outros espaços no parque que contribuem para esse resgate, por exemplo, as Casas Étnicas, Museu das Etnias, Mostra Museológica. Além disso, a Fenadi abre espaços para outras manifestações culturais: shows musicais, artesanato, trilha ecológica, atividades literárias, artísticas e lúdicas para crianças, performances, corais, bandas musicais e marciais e teatro. Estas manifestações ganham espaços diversos, seja no parque, saindo dos espaços formais das Casas Típicas, seja na cidade, isto é, as manifestações ganham as ruas. Entendendo como cultura todas as manifestações produzidas pelo homem, a Comissão de Cultura da Expo/Fenadi passa a elaborar projetos culturais para a LIC - Lei de Incentivo a Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, com a intenção de custear as despesas. Quando não há recursos essa participação se dá de forma solidária e compartilhada, pois todos tem em comum a idéia de divulgar a cultura. Em 2004 a Comissão de Cultura, através da Produtora Cultural da Rádio e Televisão Educativa da UNIJUÍ aprova junto à LIC o projeto Mosaico Cultural na Fenadi 2004, no valor de 250 mil reais. Diversas atividades são realizadas dentro do escopo deste projeto:
NAÇÕES EM MOVIMENTO: Esta é uma atividade que acontece dentro dos veículos da Medianeira Transportes, que fazem o percurso centro/parque, trazendo o Grupo de Teatro da UNIJUI, dividido em grupos caracterizados, fazendo intervenções teatrais cômicas e interagindo com o público. Esta atração tem o apoio da Medianeira Transportes (empresa que detém o monopólio do transporte coletivo urbano em Ijuí). MOSTRA MUSEOLÓGICA: Em um ambiente totalmente novo, a história das etnias na região noroeste do Estado, pode ser contemplada em painéis, objetos e vestuário que resistem ao tempo e comprovam sua trajetória histórica. A Mostra conta com a assessoria técnica do Museu Antropológico Diretor Pestana da Fidene/Unijuí. BOSQUE DO SACI PERERÊ: Um lugar agradável e junto à natureza direcionado à criançada. Com a participação de personagens da literatura infantil, além de brincadeiras, desenhos e pinturas a molecada pode escutar a contação de histórias. As atividades do Bosque serão desenvolvidas com as seguintes entidades: Secretaria Municipal de Educação, 36º Coordenadoria Regional de Educação, SESC, os Departamentos de Estudos da Linguagem, Arte e Comunicação - Delac e de Pedagogia – Depe da Unijuí. ESTAÇÃO CRIANÇA: São treze módulos multi-participativos, com diferentes graus de dificuldade, os brinquedos são desenvolvidos basicamente em grandes blocos de madeira e borracha, junto com pedras, igualmente grandes trazidas do interior. Esta estrutura forma um ambiente rústico e divertido, explorando a criatividade e concentração das crianças. Essa atração será coordenada pelos acadêmicos do Curso de Educação Física da Unijuí. CABANA E TRILHA ECOLÓGICA: Junto à Cabana acontece uma mostra de imagens de Ijuí no século passado e de atrativos turísticos regionais. Além da cabana, os visitantes poderão conhecer a Trilha Ecológica do Rio Potiribú com acompanhamento dos alunos do Curso Técnico em Turismo da Escola Francisco de Assis (vinculada à Unijuí), observando aspectos como: o microclima, a vegetação, a vida na mata e a preservação do meio ambiente.
OFICINAS DE ARTESANATO: As oficinas, para as pessoas interessadas em aprender técnicas de criação e confecção de artesanato, irão acontecer diariamente junto ao Pavilhão do Artesanato. Estas oficinas serão ministradas pela Associação dos Artesãos de Ijuí. SHOWS DAS ETNIAS: apresentações diárias no Palco das Etnias dos diversos grupos de danças dos Centros Culturais e grupos convidados de outras regiões e países. MOMENTOS DAS ESCOLAS: apresentações artísticas de diversas escolas da rede particular e pública (escolas municipais de Ijuí e região e escolas estaduais) e da APAE, que ocorrem ao longo dos 10 dias da feira, no Palco das Etnias. SHOW DE BANDAS DE ROCK DE IJUÍ: apresentações de diversas bandas locais de rock no Palco das Etnias. MOSTRA REGIONAL DE ROCK: apresentação de diversas bandas de rock do Estado, no Palco das Etnias. MOSTRA REGIONAL DE MÚSICA NATIVISTA: apresentação de diversos grupos nativistas, na Casa Tradicionalista Querência Gaúcha. MOSTRA DE VÍDEOS UNIVERSITÁRIOS E INDEPENDENTES: apresentação de diversos vídeos produzidos por universitários de diversas universidades gaúchas e de outros estados, além de produtores independentes. SHOW DE GINÁSTICA E DANÇA EXPRESSIVA: apresentação de grupo de ginástica e dança Cadag/Unijuí. SHOWS ESPECIAIS: Orquestra de Choro de Porto Alegre; Renato Borgheti e Banda; Os Felinos (banda de surf-rock da década de 60); Banda Municipal Carlos Gomes; show de movimento hip-hop.
Percebe-se pela programação proposta e realizada que o mosaico cultural se apresenta em diversas dimensões: na diversidade cultural étnica propriamente dita; na diversidade de manifestações culturais e educativas; na diversidade de instituiçoes envolvidas; na diversidade dos segmentos sociais envolvidos; na diversidade dos espaços ocupados. A diversidade cultural pode ser vista nesta experiência de modo semelhante ao apontado por Goldsmith (2005, p. 92) em documentos de instituições internacionais: Um modo de conseguir integração social – celebrando simultaneamente identidades diferenciadas e forjando ao mesmo tempo um novo sentido de pertencimento em sociedades culturalmente diversas. Em 2005, a Assembléia Legislativa gaúcha declara a Fenadi – Feira das Culturas Diversificadas de Ijuí integrante do patrimônio cultural do Estado do Rio Grande do Sul. A organização das etnias em Centros Culturais foi a fórmula escolhida para que a iniciativa de cada etnia fosse gerenciada de forma autônoma pelos própios grupos, sem oportunizar paternalismo, apadrinhamentos e dominação por parte de algumas pessoas ou instituições. A criação da União das Etnias de Ijuí – Ueti, em 1996, foi iniciativa de todos os centros culturais com o objetivo de materializar a sua integração, criar o seu fórum de negociação e exercer a coordenação geral dos interesses comuns.
Conclusão
Os imigrantes foram expulsos pela expansão capitalista na Europa e se constituíram, em sua diversidade sócio-cultural, nos agentes da conquista e integração das matas do noroeste gaúcho à economia e sociedade gaúcha e brasileira. As relações e contradições da economia mercantil baseada na pequena propriedade agrícola com trabalho em regime familiar associam-se ao esforço de preservação da identidade étnica e religiosa, como base de sustentação dos grupos dispersos pelas linhas coloniais com tradições culturais próprias (língua, religião, escolas, capelas, clubes e outras formas de organização sociocultural). Passados 116 anos do início da colonização oficial e aproximando-se o centenário de emancipação política (2012), a Babel das culturas diferençadas se converteu na unidade de uma cultura diferençada (Marques, 2002). Ainda que Goldsmith (2005) estabeleça sua análise na dimensão macro do pós-nacional, também na dimensão regional/local parece podermos afirmar que a diversidade cultural é um vetor de movimento que possibilita o intercâmbio cultural e a formação de uma identidade híbrida de características culturais heterogêneas. Como afirma Marques (1985), o significado do pluralismo étnico presente na colonização de Ijuí torna-se significativo a partir do caráter relacional da etnia. É na relação com as demais etnias que surgem as diferenças e é no convívio em espaço e tempo social comuns que se configura uma unidade original de culturas diversificadas. A retomada da diversidade cultural no movimento das etnias em Ijuí é a necessidade das etnias se reencontrarem para se somarem como forças renovadas às outras formas de agrupamentos e aos setores da economia e vida locais. Uma peculiaridade do movimento da etnias é que existe razoável abertura na formação dos grupos que se envolvem na organização dos grupos. Ainda que seja natural que a etnia se forme a partir de participantes descendentes da respectiva etnia, a miscigenação de décadas torna isto uma tarefa quase impossível. Assim, é comum encontrar-se integrados em grupos de danças da etnia x descendentes da etnia y. Por exemplo, um casal em que o marido seja descendente de alemães cuja esposa é descendente de italianos e cujos filhos dançam com os grupos letos. Este fato parece ajudar a afastar o perigo de fechamento e isolamento de cada etnia em si mesma. O Mosaico Cultural, assumido como política local, reforça a idéia da construção da unidade cultural com base na diversidade das culturas diferençadas das etnias, mas com atenção voltada para a necessidade de evitar a elitização do movimento, daí a importância de manifestações culturais populares nos mais diferentes espaços do tecido social local e a integração com as manifestações culturais existentes na região, no Estado, no País e em outros países.
Notas
[1] O município de Cruz Alta desmembrou-se de Rio Pardo em 1834. O Conselho Municipal (Câmara de Vereadores) do “novo município, revelando visão política, passou a empenhar-se, junto às autoridades da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, no sentido de iniciar a colonização das áreas de mato no norte da província, chamando a atenção para a importância estratégica e econômica dessa ocupação” (Brum, 1990, p.13). [2] A ocupação de Cruz Alta data de 1821. Pertencia ao município também o distrito de Santo Ângelo, núcleo habitacional da região das missões. Atualmente, Cruz Alta, Ijuí e Santo Ângelo são os principais centros urbanos da região Noroeste do Estado, sendo Ijuí o mais populoso dos três. Ijuí liga-se a Cruz Alta pela RS-342, com 40 km de distância no sentido Nordeste e a Santo Ângelo pela BR-285, também numa distância de 40 km, no sentido Oeste. [3] Brum (1990) considera que a data da abertura da picada não está suficientemente elucidada. Entretanto, este autor aponta que no ano de 1848 existe registro do termo de posse das terras que José Gabriel da Silva Lima recebeu como pagamento pelos serviços de abertura da picada. Portanto, em princípio o serviço deve ter sido feito ou pelo menos iniciado bem antes. [4] Era um dos médicos mais famosos de Cruz Alta naquele tempo. O livro foi editado pelo comerciante cruzaltense Evaristo Afonso de Castro. [5] O Faxinal (clareira de uso comum) ficava na margem direita do Ijuí e a picada que para lá levava passava pelo atual município de Dr. Bozano. Rincão Nossa Senhora deve estar ligado ao atual Rincão dos Gói. [6] O preconceito aparece mesmo nos textos de autores ijuienses, como se verifica neste texto de Fischer, 1987, p. 40 (originalmente publicado no Correio Serrano em 1967): “constatou-se um afluxo maior do elemento negro só depois da Segunda Guerra Mundial, quando, em toda a parte, as condições sociais sofreram uma alteração decisiva. Mas, ficando numericamente muito fraco e socialmente em posições inferiores, o elemento africano não teve influência alguma na evolução do município de ijuí, nem economicamente nem socialmente. Mesmo não sendo marginais autênticos, a maioria dos africanos levam hoje, em Ijuí, uma vida de certo modo isolada, à margem da sociedade”. (grifos meus) [7] O nome “Retomada” foi escolhido com a finalidade de mostrar que se, no passado, ocorreram, etapas de expressivos e diferenciados avanços no município, resultantes de posições arrojadas das lideranças estratégicas, também, neste momento histórico seria possível uma nova arrancada.(Baggio, 2001, p.5) [8] Expressão cunhada nos Estados Unidos nos anos 20. Weber (2002) lembra que a idéias de caldeamento ou fusão de raças fez parte do discurso imigrantista brasileiro, inspirado pela doutrina do branqueamento. [9] O slogan Colméia do Trabalho foi o vencedor num concurso patrocinado pelo Correio serrano em 1944, através de cupons impressos no jornal. Uma comissão composta por seis cidadãos (prefeito, presidente local da Liga de Defesa Nacional, presidente do Grêmio Ijuiense de Letras, dois jornalistas e um funcionário público municipal) escolheu o slogan entre mais de 75 sugestões. [10] A Universidade de Ijuí – UNIJUÍ, hoje Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, foi, em 1985, a primeira universidade reconhecida da Nova República. [11] Ijuí em guarani significa, dependendo da grafia: Ïhjui: rio das rãs; Juhy: rio dos espinhos; Jujuhy: rio dos pintassilgos; Ijuhy (a grafia que aparece em todos os documentos até a década de 1940): rio das águas divinas ou rio das grandes águas. O slogan simboliza, à semelhança do papel dos diversos afluentes do rio Ijuí, a contribuição das diferentes etnias para a cultura de Ijuí – dando-lhe uma unidade na diversidade. [12] Ijuí fundou o 1º CTG gaúcho: o CTG Farroupilha, e conta hoje com mais de 8 CTGs organizados. [13] A Expo-Ijuí é uma exposição feira de agropecuária, indústria e comércio que teve sua prmeira edição em 1981, ocorrendo a cada dois anos. A partir de 1998 passou a ter uma edição anual, juntamente com a Fenadi. Em 2002 realizava-se a XII Expo-Ijuí e a XVI Fenadi.
Bibliografia
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Um comentário:

Tia brasiliense disse...

Muito bom ler sobre a dinâmica influência dos europeus no desenvolvimento da amada terrinha IJUÍ. Meus antepassados vindos da longínqua Letonia, após receberem a gleba de terra destinada pelo então governo municipal, machados, foices, panelões, construíram o barracão para abrigar a todos. Imediatamente após a prioridade, foi construir uma escola e uma igreja. Depois é que partiram para a construção de suas próprias casas, desbravando o denso mato e, é claro, desenvolver a agricultura de subsistência. O que colhiam era sempre compartilhando com todos conterrâneos. Na bagagem trouxeram parte de suas próprias bibliotecas, instrumentos musicais,ferramentas para trabalhar com madeira, variado conhecimento, cultura, enfim, diferentes habilidades para iniciar uma nova vida em terra estranha...
Em registros antigos pode-se encontrar referencias ao aprimorado currículo escolar que era desenvolvido nessa escola.
Ah, quanta saudade das histórias que vovó contava....
Klaudy Garros, nascida na linha 11 Leste em IJUÍ.